quinta-feira, 23 de junho de 2011

Os porquês dos empréstimos linguísticos


Quando pensamos em empréstimo, explícita ou implicitamente, há outro termo: devolução. A exemplo, de um bem que tomamos de empréstimo, ou um dinheiro que o banco nos empresta, sempre há um prazo e parcelas determinadas para seu pagamento, com seus juros e correções e tais.
Já com o empréstimo lingüístico, ocorre diferente. Quando pegamos a título de empréstimo um vocábulo, palavra ou termo, usamo-lo, ou por necessidade, ou por exibição (casos em que um usuário quer demonstrar conhecimento de outro idioma), mas ao contrário de empréstimos de bens materiais; o lingüístico deveria receber, no dizer de Bizzocchi, o nome de “apropriação”, pois em suas palavras “O empréstimo de palavras e coisas, deveria chamar-se apropriação. Pois se trata de empréstimo a fundo perdido e sem consulta prévia ao cedente.”.
Ou seja, não perguntamos a um inglês ou espanhol, ou qualquer outro usuário de idioma se podemos usar palavras suas, se nos será permitida ou não essa ‘apropriação’ indevida. Citando Manuel Said Ali, Bizzocchi salienta que, “Na linguagem faz-se isto sem cerimônia. Não se propõe nem se pede. Tira-se.”. Ação esta que permite o enriquecimento lingüístico do idioma, porque aumenta as possibilidades de comunicação, evitando o que Bizzocchi nomeia como “ “autismo” lingüístico de um idioma”.
Outro ponto a salientar é a moda. As lojas dão preferência a termos como sale em vez de liquidação; ou off,  por desconto. Será que isso é uma exigência da clientela que se impressiona com termos em inglês? Ou é uma criação descabida dos lojistas? De qualquer forma, fiquemos atentos com os empréstimos desnecessários, pois quando temos vocábulos em nosso idioma, por que tomarmos emprestados de outra língua?
Mas também não devemos fazer como o islandês que, conforme Bizzocchi “traduz os vocábulos que lhe chegam de fora, usando material nativo”.  A isto chamamos decalque. E não passa de uma mascaração de pureza do idioma.
Outra razão dos emprétimos é que os países que importam tecnologia recebem não apenas produtos, mas - juntamente com os tabletes, computadores e acessórios - uma infinidade de termos que devem engolir e degustar, ou se quiser, adaptar, decalcar e se “apropriar”. 
E com o Brasil, o que acontece? O Brasil importa mais termos do que exporta. Isto por que o Brasil é um grande importador de tecnologia. Mas é uma coisa da qual o brasileiro parece se orgulhar: apropriar-se de termos estrangeiros. E quando não se adapta, usa-se mesmo o importado. Sem cerimônia, ou intenção de devolvê-lo.

* Texto livremente inspirado nos textos: Palavras sem fronteiras. Revista da Língua Portuguesa. p.30. Ano 5. N. 58. Agosto de 2010. E Mudança de endereço. Revista da Língua Portuguesa. p. 30. Ano 5. N. 67. Maio de 2011.  De autorias de Aldo Bizzocchi.

* Joaquim Gonzaga Nunes. É professor especialista em língua portuguesa e literatura.

Um comentário:

donilink disse...

Um dia desses ouvi algo interessante, que vai na contramão do texto (não estou discordando), um cidadão dizia orgulhosamente que no dicionário da língua inglesa havia uma palavra bem brasileira "favela". Vamos refletir!