quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Versões de um quase acidente


                                                        Joaquim Gonzaga Nunes 
                                    

                    
O aluno na sala, olhos esbugalhados, aflito, a voz entrecortada, anunciou:
- Professor, quase que o Gu morreu num acidente.
Gu era um colega da sala. Que sentado perto da porta, não admitiu que quase tivesse morrido atropelado.
- Quando foi o acidente? – quis saber o professor.
O aluno tentou esclarecer.
- Agorinha. Quando a gente vinha pra sala.
Nesse momento, já se sabia que uma moto em alta velocidade havia lixado o motoqueiro na rua de paralelepípedos ásperos e desiguais. O professor, espantado, imaginando a dor terrível do piloto. As escoriações, o sangue derramando, ambulância com sirena pedindo trânsito. O corpo de bombeiros de vermelho, correndo com o homem na maca...
Um terceiro falou:
- Não teve acidente! A moto só rodou na rua, fez uma pirueta e quase que o homem se danou, mas foi só.
O primeiro aluno, ainda assustado, assegurou que houvera o acidente sim.
- Claro que teve o acidente. A moto quase bateu no Gu. Não foi Gu?
- Não ia batendo em mim não. Ela passou e só depois que rodopiou feito um pião. O piloto conseguiu segurar a moto.
- Não. A moto caiu. – Assegurou o menino que principiara a conversa.
- Não caiu. Ela só rodou. Você não viu?
- Quando eu vi foi só a doideira, o piloto segurando a moto tombada na perna. Mas eu tenho certeza que ela caiu.
Foi preciso que o professor interviesse na conversa, pois do contrário a aula não teria continuidade, deixando a certeza de que num átimo de segundo, por minúsculo que o tempo se apresente, você pode não perceber um acontecimento e sua versão ficar truncada.

Um comentário:

donilink disse...

Se o Gu disse que não houve cidente então não houve. Pois não seria o mesmo a vitima?